Pensar a comunicação hoje nos desafia a buscar paradigmas e referências distintas daquelas que pautaram o saber compartimentado que isolou as mediações de seu contexto histórico mais amplo, assim como também o isolou dos processos da vida e de suas ciências. Pensar a comunicação hoje obriga-nos a questionar os conceitos gerados pela compartimentação. Por isso, desde já, nos propomos a buscar um olhar complexo, direcionado tanto para as arqueologias quanto para os impactos futuros. Um olhar que não amputa a Ciência da Comunicação das Ciências da Cultura. Igualmente buscamos um olhar que não nos reduza às crenças de que somos a única matéria pensante e comunicante no planeta. Para tanto queremos lançar nossos olhares para três estágios fundamentais da comunicação e da cultura humanas: os vínculos, as redes e os ambientes. Se os vínculos, este conceito tão antigo como atual, significam capturas, são eles os primeiros construtores de toda e qualquer realidade social. Assim, são eles também a matéria prima de toda comunicação

bem como da cultura humana. São eles os criadores das redes, conjuntos complexos de amarrações e nodações. Se são constituídos de matéria afetiva (atração, aprisionamento, captura), então as redes amplificam seu efeito e geram atmosferas afetivas, de pertencimento ou discriminação, amor ou ódio. Tais atmosferas ou ambientes ganham autonomia relativa e passam a co-determinar as redes e os vínculos. Os processos de mimese, de simpatia, de empatia, de atração, de coerção e de contaminação participam ativamente dos ambientes da cultura. Assim, coexistem, lado a lado, ambientes de distribuição das informações e ambientes para sua sonegação, o esclarecimento com o obscurecimento, a conclamação à resistência com o incentivo à conivência. Os ambientes oferecem respaldo a quaisquer programas. Conhecer melhor a dinâmica dos ambientes, das redes e dos vínculos é o desafio que se coloca para o nosso VI CoMcult nos tempos turbulentos de crises e retrocessos.